A urgência de pensar devagar: O que a formação digital ainda não aprendeu

Num tempo que exige velocidade, talvez a maior ousadia seja ensinar devagar — e aprender no silêncio.

Vivemos num tempo que celebra a aceleração, a velocidade.
Clicamos mais do que lemos. Vemos mais do que ouvimos. Saltamos de website em website, curso em curso, como se a aprendizagem fosse um jogo de velocidade com rankings e certificados. As plataformas digitais reforçam isso: “Aprende profissão-da-moda-aqui em 7 dias”, “Torna-te especialista em qualquer-coisa-interessante-aqui em 3 horas”. Como se aprender fosse apenas acumular. Como se ensinar fosse despejar. Como se ser especialista em algo (palavra que por si só já abomino pois somos todos especialistas apenas em tentar saber mais do que os outros!) fosse tão simples como um acumular de digi-canudos acelerados numa plataforma digital qualquer…

Nada se aprende com pressa. Nada se aprende depressa. E há ensinamentos que só se instalam quando encontram espaço.

Na formação, como na vida, há uma diferença fundamental entre transmitir e transformar. Transmitir é rápido. Transformar é lento. Requer escuta. Requer tempo para a dúvida. Tempo para associar. Tempo para tentar e errar… e tentar outra vez. Tempo para desaprender. Para reaprender.

Nos últimos anos, tenho trabalhado com centenas de formandos, de jovens a profissionais mais estabelecidos. Todos — mesmo os mais habituados ao digital — sentem o mesmo desconforto: estão saturados de velocidade e famintos de sentido. Não querem apenas mais informação. Querem tempo para pensar. Querem que os tratem como pessoas, não como consumidores de conteúdo.

Mas o sistema não está preparado para isso. As formações digitais continuam, regra geral, a copiar o modelo da sala de aula presencial, agora com mais ruído, mais estímulos visuais, mais ferramentas — mas com o mesmo vício da pressa. Pede-se ao formador que seja animador, gestor, copywriter, técnico, entertainer. E ao formando, que “acompanhe”.

A verdade é que ensinar, com propósito, exige o contrário: exige desaceleração. Exige criar pausas, dar espaço à dúvida, permitir o silêncio. Exige uma pedagogia do intervalo, onde a reflexão não é vista como perda de tempo, mas como o próprio tempo da aprendizagem.

É preciso reaprender a ensinar devagar.

Isto não significa tornar tudo mais lento, ou menos exigente. Significa respeitar os ritmos internos de quem aprende. Dar espaço à digestão mental. E lembrar que, muitas vezes, a melhor pergunta vale mais do que a melhor resposta.

Num mundo obcecado pela eficácia, talvez o verdadeiro acto transformador seja ensinar com humanidade.

E isso, por paradoxal que pareça, começa por sabermos, por querermos, abrandar.


Foto de Max Fischer no Pexels

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