Não posso mais…

Pedro!

Desculpa lá a familiaridade mas, quando a música de alguém me arromba as portas de casa e se instala comodamente no sofá, eu tenho a tendência de tratar o artista como um membro da família, por isso…

Pedro!

Qual não é o meu espanto quando vislumbro o teu nome numa lista de “apoiantes” – coloco entre aspas porque recentemente verifiquei quão importantes são as aspas neste “assunto”, oops… lá o fiz outra vez – como eu dizia … numa lista de “apoiantes” a um projecto de lei que me vai roubar dinheiro aos bolsos. Sim, vai roubar dinheiro, a mim, a ti, aos teus músicos, aos teus fãs, à tua família, ao teu trabalho.

Pedro!

Não te lembras dos dias que passavas nos corredores do conservatório do Porto, pois não? Não te lembras das noitadas com os Bandemónio a preparar o álbum que me arrombou as portas de casa? Diz-me uma coisa: como é que guardavas o resultado de tanto trabalho? Como é que apresentaste o teu single às produtoras? Eu lembro-me desse primeiro single, dizias que não podias mais, viver assim… e eu percebia-te pá, percebia que também não podias mais viver assim sem deitar cá para fora aquela música, aquele ensemble de sopros e cordas que deu um abanão no panorama musical português.

Pedro!

Vou-te confessar uma coisa: sabes quantas cópias fiz do teu “Viagens“? Duas! Uma foi feita para que o meu irmão, que estava no quarto ao lado do meu, ainda em casa dos meus pais, não mo continuasse a riscar de cada vez que o esfregava na manga da camisola para o colocar a tocar. A outra cópia foi feita uns anos mais tarde, quando me assaltaram o carro e levaram uma dúzia de cd’s originais que transportava religiosamente no porta-luvas. Olha! Junto com o teu “Viagens” estava também o “Biografias do Amor“, do teu colega de “apoio” Sérgio Godinho… Vê lá tu. Também tive que procurar alguém que o tivesse para poder recuperar essas melodias.

Sabes Pedro? Até o “Tempo” te fiz a “vontade” de comprar, só por causa da faixa nº3 e por acreditar que ias acertar duas vezes seguidas na fórmula mágica que te levou ao sucesso com o “Viagens”. Não acertaste pá… mas deixa lá isso… não te queixaste… remeteste-te ao “Silêncio” e pediste que te desse o tempo… não dei! Tinha-o comprado e não me cansava de riscar a faixa nº3… às vezes a nº4 também… mas fiquei com ele para mim! Tu… deste tempo… ao “Tempo”…

Deixa-me perguntar:

– No meio de tudo isto nunca compraste cd’s, dvd’s, discos rígidos? Nunca fotocopiaste umas pautas e letras para o resto do pessoal da banda? Pois…

Pedro!

Quando pensava que ias mesmo acabar em silêncio, porque esta merda de ser músico é difícil, pá,  deste-me um “Momento“… e eu vi na tua música uma espécie de céu, um pedaço de mar… agarraste-te às palavras e não te escondeste em silêncio, abriste as asas a “voar”…

Pedro!

Eu dou-te o benefício da dúvida pá, continuei e continuo a ser fã, pá! Até acredito que às páginas tantas nem sabes que a SPA anda a usar o teu nome para justificar o injustificável… eu quero acreditar que sim, que tu nem sabes o que se está a passar… és um gajo ocupado, com os concertos e a vigilância ao Rio, aí na câmara do Porto…

Pedro!

Não posso mais pá… a sério! Então até para trabalhar para mim tu queres que eu te pague a ti?  Então não te chega tudo o que fiz e faço até aqui? Que mais queres pá? Não posso mais… a sério!

Tudo o que eu te dou, dou porque me dás a mim… e é assim que tem que ser, eu dou-te atenção, compro os teus discos, bilhetes para os concertos… tu dás-me boa música! Não votei em ti porque não voto no Porto, desculpa lá pá… não é razão para te unires ao lado negro da força… mesmo com esses óculos escuros que nunca tiras!