Trago-vos hoje um caso real.

É verdade, daqueles casos cuja realidade nos leva aos anos 80 e a uma pequena série televisiva chamada “the twilight zone“. Sim, porque coisas destas só podem mesmo fazer parte de alguma realidade alternativa, em que as coisas continuam presas aos tempos em que as estradas ainda eram de terra batida e, quando se entrava numa loja era para comprar e não para avaliar preços e materiais e etecétera.

Várias são as lojas de comércio a retalho (não vou usar o epíteto “comércio tradicional” para não me quilharem outra vez…) que, na procura de aumentar as vendas, investem, vejam lá, em sítios na internet (os websites, estão a ver?). Pois.

Alguns (a grande maioria e ainda bem) percebem no que se estão a meter, e até investem em loja online e enviam pelo correio aquilo que o cliente compra  e mais não sei o quê, tudo muito profissional, muito clean (como gostamos de dizer).

Outros, aplicando os seus conhecimentos práticos de longa data no ramo, fazem tudo muito bonitinho, mostram os seus produtos, até fazem umas bandeiras (banners) todas bonitas a anunciar promoções e produtos novos e uma carrada de informação que se torna completamente inútil porque não colocam o preço. É verdade, num mundo em que uma loja está à distância de um clique, em que um produto procurado no google (por exemplo) aparece em dúzias de lojas online, devidamente etiquetados, estes senhores vendedores e revendedores optam por não colocar o preço daquilo que vendem. Optam por colocar uma ligação a dizer “para mais informação contacte” ou “clique aqui para mais informações”, e depois respondem a tudo menos às informações pretendidas!

Não acreditam? É verdade! Há uma imensidão de lojas online (se é que lhes podemos chamar isso) que não publicam os preços, que nos obrigam a uma troca de meia dúzia de emails e telefonemas até concretizar uma venda.

Meus senhores: como querem que eu vos compre um livro se para isso preciso de enviar 3 emails e aguardar resposta de cada um deles, quando em alternativa me posso registar numa Fnac ou Wook e escolher, pagar e indicar onde receber em menos de 60 segundos? Como querem que vos compre uma simples mochila após 2 emails e 2 telefonemas quando o posso fazer em meia duzia de cliques numa Decathlon ou numa Sportzone?

O segredo mata-vos o negócio meus caros comerciantes. Online, a procura do contacto pessoal, como se estivessem a atender um cliente ao balcão, só afugenta o cliente. A internet é um mundo sem cara, sem coração, sem lealdade. O que interessa ao cliente é o preço, depois o preço, a seguir a qualidade, depois ainda pensa no preço outra vez…alguns ainda vão ver onde é feito e de onde vem mas, regra geral, a última coisa que querem saber é quem vende… se é homem ou mulher, alto ou baixo, gordo ou magro, fala bem ou gagueja? Não interessa, o que interessa é que venda, tenha a melhor relação preço/qualidade e entregue a tempo e horas… nem que venha da China!

É uma pena que isto aconteça, até porque andamos muitas vezes à procura de fomentar a economia, investindo no que “é nosso” e depará-mo-nos com uma falta de vontade em vender que dá para berrar aos céus.

Exemplo prático:

Ando, de há uns dias para cá, à procura de comprar uma nova guitarra. Através de muitas buscas e consultas em vários fóruns, websites e etecétera cruzei-me com uma marca portuguesa, de Braga, que, dizem os entendidos nos fóruns que percorri, constroem umas guitarras fantasticamente bem conseguidas. Com grande qualidade, e em grande parte de forma artesanal. Guitarras 100% portuguesas, verdadeiramente únicas! Acontece que, vá-se lá saber porquê, em lado nenhum do seu website existe uma informação de preços, ou uma listagem de revendedores autorizados, a única coisa possível é estabelecer contacto através de um formulário. Coisa que eu fiz! A sério, tal é o meu interesse…

Perguntei simplesmente se teriam algum revendedor autorizado na zona de Espinho ou Vila Nova de Gaia (até Porto, quem sabe), uma coisa de fácil resposta não acham? O Sr comercial da dita fábrica de guitarras foi muito lesto na resposta: “por favor envie-nos o seu contacto telefónico para o podermos servir melhor.“!

Meus caros, se me querem servir melhor respondam à pergunta que fiz. Isso sim, é um serviço 5 estrelas! Respondam “sim” ou “não“, em caso de resposta negativa ofereçam alternativas: “temos loja de fábrica, visite-nos“, “temos loja noutro local – nome do local“. Mas não, querem-me telefonar! para quê? Não querem vender? Querem ter a certeza que eu existo? Não acreditam no meu interesse? Não respondi ao email… não o vou fazer… nas poucas lojas de música que tenciono visitar vou perguntar pelas guitarras, se tiverem talvez as veja, se não tiverem lá vou eu para uma marca mais comercial (e estrangeira, pois claro”).