Quando Alice se vê do outro lado do espelho envolve-se num gigantesco jogo de xadrez, repleto de personagens psicóticas e aventuras mirabolantes capazes de moer o juízo a qualquer adulto, quanto mais a uma miúda de 10 anitos como ela… No entanto, em vez do medo e do terror, que poderia surgir com as esquisitas e antropomorficadas criaturas, as mirabolantes récitas dos gémeos Tweedle Dee e Dum ou os psicóticos “ataques de caspa” da raínha vermelha, a miúda enche-se de curiosidade e encara a coisa na boa, leva o jogo na tranquilidade e vai avançando de casa em casa, de conto em conto, de personagem em personagem, para se poder transformar ela mesma também numa raínha, mas com mais juízo do que a que lhe dá as boas vindas à terra do outro lado do espelho. O percurso percorrido pelas 8 – já disse que é fascinante o nº 8? ainda não? que pena…talvez faça um post sobre isso um dia destes…continuando… – o percurso percorrido pelas 8 casas que Alice atravessa apresenta-se como um figurativo processo de crescimento e amadurecimento, como uma alegoria a determinadas fases da vida pelas quais todos passamos, umas estúpidas outras nem tanto (ooohhh…mas a maioria é…) até que a pachorra da miúda atinge o limite e sobra o grito final na confusão da loucura e na afirmação: “Chega, vocês não passam todos de umas crianças” – batendo com os pés em jeito de quem impõe ordem e respeito (como os adultos). Ao mesmo tempo  – digo eu – bate com a cara contra a parede da realidade da vida adulta… Caramba! Porque olhamos para aqueles que se deixam envolver na loucura do dia-a-dia, e cantam e dançam e  se desconectam do padronizado, sem medos, e lhes chamamos crianças? Porque assumimos a nossa postura conforme o crescimento daquele ridículo binómio que a passagem dos anos nos carimba no corpo? Porque prescindimos do prazer, assim sem mais nem para o quê? Passamos o largo dos nossos anos como uma cambada de Alices desencantadas, é o que é…

Esta coisa é complicada pá!