Parece demasiado trágico este título, não?

Mas as notícias que chegam a público parecem querer confirmá-lo! Será que alguém, alguma vez, se debruçou seriamente sobre os verdadeiros problemas do “comércio tradiconal português”? Será que algum dia, alguém, deu um salto até outros países da União Europeia para tentar perceber como sobrevive e prospera o comércio tradicional fora de portas?

Posso estar a falar sem o intrínseco conhecimento aprofundado dos meandros do funcionamento do comércio mas, a meu ver, o problema do comércio tradicional português é um problema de umbiguismo. É um problema de mentalidade egocêntrica que faz com que o comerciante não consiga entender que para “prestação de serviços” deve ter o seu tempo e espaço preparados para servir o cliente e não “servir-se” do cliente.

O comerciante tradicional português entende que deve ter um horário de trabalho igual ao dos seus clientes, das 9h00 às 17h00, e com pausa para almoço igual à dos seus clientes, das 13h00 às 14h00, por exemplo. Faltando-lhe a percepção de que a maioria dos seus potenciais clientes está na rua, pronto a fazer compras, precisamente nos horários em que tem o seu espaço comercial Fechado. Não aprenderam nada com os Shoppings? Julgam que é na “concentração de grande número de lojas” que os shoppings roubam clientes ao comércio tradicional? Julgam que nos shoppings se conseguem fazer preços mais acessíveis porque as lojas são de grandes grupos que compram à tonelada e vendem depois ao desbarato? Se julgam então ponderem isto:

– algum shopping, ou loja de shopping, que conhecem abre às 9h00 e fecha às 17h00? Ou às 19h00?
– algum shopping, ou loja de shopping, que conheçam fecha para o almoço?
– alguma loja de shopping tenta pagar todo o produto em armazém com as primeiras 3 vendas?

Os shoppings surgiram porque o mercado tradicional permitiu a criação de um espaço no mercado para que eles se introduzissem.

Shopping - Foto de Camilo Pina Cabral
Foto de Camilo Pina Cabral

São pouquíssimas as lojas tradicionais que se adaptaram às necessidades dos seus clientes. Só as vemos a espaços, em locais de comércio por excelência, seja na baixa lisboeta ou na rua Santa Catarina, por exemplo, que mesmo assim têm, sempre, o seu número de lojas com os horários de atendimento de “expediente”. Mesmo nas conhecidas ruas de “comércio tradicional” verificamos que são as lojas de grandes marcas que seguem a toada de horários de funcionamento ininterruptos. Horários que permitem fazer umas compras durante a hora do almoço, depois de sair do emprego, a caminho de casa, sem ter que fazer um desvio de algumas horas para ir a um hipermercado ou ter que marcar um dia de fim de semana para ir ao shopping fazer compras.

Vejam o exemplo dos nossos vizinhos espanhóis: abrem às 10h00, fecham às 15h00 ou 16h00, reabrem às 19h00 e fecham às 21h00. porquê estes horários? Porque resultam, porque têm os potenciais clientes na rua, prontos para fazer compras, e abrem ao sábado e ao domingo, folgam durante a semana, por exemplo.

Conseguem imaginar algo mais deprimente, do ponto de vista do comércio, estar a descer uma rua cheia de lojas, e todas elas fechadas? Vocês querem fazer compras, vão comprar onde? Ao shopping, pois claro… e depois vem o comerciante de rua queixar-se que não tem clientes! Ó senhor comerciante, o pessoal trabalha, sabe? A gente primeiro tem que ganhá-lo para depois gastá-lo, sabe? Abra a loja a horas decentes para um gajo ir às compras que um gajo vai às compras, não tenha dúvidas!

O comércio tradicional queixa-se que o estão a matar… engana-se, está a suicidar-se lentamente, essa é que é a verdade!

E até aqui falamos, apenas, de parte do problema, não entremos pois nas divagações económico-financeiras que envolvem o comércio tradicional, nomeadamente a procura do lucro rápido, imediato! Essa é areia para outra camioneta de palavreado!